quarta-feira, 30 de março de 2016

Hiperbórea


A parte setentrional da Terra era habitada por uma raça feliz, chamada hiperbóreos, que desfrutava uma primavera eterna e uma felicidade perene, por trás das gigantescas montanhas, cujas cavernas lançavam as cortantes lufadas do vento norte, que faziam tremer de frio os habitantes da Grécia. Aquele país era inacessível por terra ou por mar. Sua gente vivia livre da velhice, do trabalho e da guerra, ali as pessoas atingiam idades de mil anos e gozavam de vidas permeadas de completa felicidade.

De um país venho pelo sol banhado,
De jardins reluzentes,
Onde o vento do norte jaz domado
E os uivos estridentes


Hiperbórea, ou País dos Hiperbóreos (em grego antigo, "acima do Vento Norte") é o nome de um país mítico que, segundo a mitologia grega, existia no extremo norte, além do local de onde sopra Bóreas, o Vento Norte e que era inteiramente devotado a Apolo.

De acordo com a tradição da mitologia grega, os Hiperbóreos eram um povo mítico vivendo no extremo norte da Grécia, próximo aos Montes Urálicos. Sua terra, chamada de Hiperbória (do grego ύπερ, hiper, "super" ou "além"; e βόρεια, bóreia, "norte"; traduzido como "além do bóreas" [bóreas, o vento norte]), era perfeita, com o sol resplandecente 24 horas por dia*. O sol nascia e punha-se apenas uma vez ao ano na Hiperbórea; e ali havia quantidades massivas de ouro, guardadas pelos grifos.
Os gregos pensavam que Bóreas, o deus do vento norte, vivia na Trácia. A Hiperbórea, portanto, era uma nação desconhecida, localizada na parte norte da Europa e da Ásia. Exclusivamente entre os Olímpios, apenas Apolo era venerado pelos hiperbóreos: o deus passava os invernos junto a esse povo, entre o equinócio da primavera e o surgir das Plêiades, o filho de Zeus canta seus próprios hinos. Teseu e Perseu também visitaram os hiperbóreos. A mãe de Apolo seria uma hiperbórea que veio do extremo Norte para a ilha de Delos, a fim de dar à luz Apolo e Ártemis, mas os objetos sagrados apolíneos eram originários da ilha. Conta-se também que duas jovens hiperbóreas, Arges e Ópis, acompanharam Ilítia e Leto até a ilha de Delos, trazendo presentes para a primeira, a fim de que permitisse o nascimento de Ártemis e Apolo.
Quando da tentativa dos gálatas de invadir Delfos, outro domínio sagrado de Apolo, apareceram dois fantasmas armados que terrificaram os inimigos, reconhecidos como os heróis hiperbóreos Hipéroco e Laódoco, versão masculina das duas heroínas hiperbóreas que falecidas em Delos, Hipéroque e Laódice.
Dizia-se que Pitágoras era uma encarnação de Apolo Hiperbóreo. Os hiperbóreos estão ainda presentes no mito de Perseu: depois de viajar ao extremo Ocidente em busca das Gréias e forçá-las a revelar o paradeiro da Medusa e como derrotá-la, elas o enviaram para o país dos hiperbóreos, onde certas ninfas lhe entregariam os objetos mágicos que lhe permitiriam derrotar a Medusa.
O país também é citado no mito de Héracles, que em seu quarto trabalho persegue a corça de Cerinia por um ano, em direção ao norte, através da Ístria (a terra do rio Istra, atual Danúbio), e chega ao país dos hiperbóreos, onde é benevolamente acolhido por Ártemis. Nas versões mais antigas do trabalho de busca aos pomos de ouro, é também no país dos hiperbóreos que o herói encontra Atlas sustentando o céu (que em outras versões, é localizado no extremo Ocidente).


                                                                                                                                    
*Acima do Círculo Ártico, do período do equinócio da primavera até o período do equinócio de outono, o sol brilha durante 24 horas por dia (chamado de "sol da meia noite" - tal fenômeno pode ser visto na parte norte da Suécia, Noruega e Finlândia, por exemplo). No Polo Norte o sol nasce e se põe apenas uma vez ao ano - provavelmente levando à conclusão de que "um dia" para pessoas residentes ali tenha a extensão de um ano, de forma que viver mil dias, portanto, signifique viver mil anos.

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